terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Je suis Indonésia



Je suis Indonésia
Em 19 de janeiro de 2015 às 12:05 por Alex Medeiros
Atualizado em 19 de janeiro às 12:05 


 
Q
uando morreu o cantor Alexandre Magno, o Chorão da banda Charlie Brown Jr., um parente declarou à imprensa que o rapaz deixou o cotidiano musical e o casamento para se dedicar, em total desespero, ao vício incontrolável da cocaína.
Em maio do ano passado, um pai desesperado no Piauí, fragilizado pela falta de esperança para salvar um filho das drogas, amarrou o jovem coitado numa árvore, num ato insano para evitar que ele fugisse pela enésima vez em busca de cocaína.
Alguns anos antes de suicidar-se, o ator de Hollywood Robin Williams revelou em entrevista ao jornal inglês The Guardian que fez coisas horríveis por causa do vício em cocaína, que tentou se livrar e infelizmente o levou ao ato final de desespero.
No mesmo período da entrevista de Williams, a pop star Lady Gaga declarou que o vício pregresso em cocaína e LSD quase a levou à morte, até conseguir recuperar-se; coisa que ocorreu de maneira similar com a cantora brasileira Deborah Blando.
Em outubro de 2013, uma garota de 20 anos, da cidade de Assis, em São Paulo, saiu para uma balada e horas depois seus pais foram acordados para resgatar seu corpo que jazia num hospital, com o atestado de óbito anunciando overdose de cocaína.
Os festejos natalinos em dezembro passado foram cancelados na residência de uma família de classe média em Cabo Frio, no Rio de Janeiro, depois que um filho de apenas 12 anos morreu com uma overdose de cocaína e a mistura de entorpecentes.
O ano novo nem bem começou no Brasil e fomos bombardeados com notícia da estranha morte de um engenheiro catarinense de 36 anos, que despencou de um hotelhttp://cdncache1-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.png no México. Ele havia consumido drogas durante a temporada de férias.
Desde ontem, a imprensa brasileira trata como uma perda irreparável o fuzilamento de Marco Archer, o traficante de cocaína, e playboy que viveu o glamour dos esportes radicais e das boates internacionais, patrocinado pelas drogas que vendia.
Durante os dois governos do PT, com Lula e com Dilma, o Palácio do Planalto deu ao caso da condenação do traficante uma aura de tragédia nacional com trejeitos políticos de incidente diplomático entre o Brasil e a Indonésia, onde ele foi preso.
Formado na cultura da corrupção brasileira, onde o dinheiro resolve todos os problemas, limpa reputações e encobre crimes, Archer sempre acreditou que a instituição da propina, que também existe na Indonésia, iria livrar sua cara.
Entre os ridículos depoimentos oficiais em solo brasileiro a seu favor (faça-se justiça e poupemos a histriônica Maria do Rosário, que não o tratou como herói), destaca-se o de um diplomata que considerou extremo um tiro como castigo.
O que o tal burocrata da politicagem de cabotagem – e também Lula e Dilma – não sabe é que o primeiro contato dos jovens com a cocaína é muito parecido com o fuzilamento que matou Archer. Cheirar é dar em si mesmo o primeiro tiro.
E quantos foram aqueles que se iniciaram no vício encarando a droga como uma moda de juventude? Quantos deram a primeira cheirada no pó que saiu das mãos traficantes de Marco Archer? Quantos foram fuzilados pelas carreirinhas dele?
A rede do tráfico cria uma relação aparentemente invisível entre o traficante e o usuário, através do mero avião que apanha o papelote para distribuir nos inferninhos. Qualquer piedade com Archer, como a de Dilma, é piegas e cínica.
Com exceção dos seus familiares, ninguém deve sentir sua morte na Indonésia, nem muito menos imprimir na sua vida pregressa um tom de personagem literário ou cinematográfico. Há de ser lembrado como quem fuzilou vidas a troco de pó.