Je suis Indonésia
Em 19 de janeiro de 2015 às 12:05
por Alex Medeiros
Atualizado em 19 de janeiro às 12:05
Atualizado em 19 de janeiro às 12:05
Quando morreu o cantor Alexandre Magno, o Chorão da banda Charlie Brown Jr., um parente declarou à imprensa que o rapaz deixou o cotidiano musical e o casamento para se dedicar, em total desespero, ao vício incontrolável da cocaína.
Em maio do ano passado, um pai
desesperado no Piauí, fragilizado pela falta de esperança para salvar um filho
das drogas, amarrou o jovem coitado numa árvore, num ato insano para evitar que
ele fugisse pela enésima vez em busca de cocaína.
Alguns anos antes de suicidar-se,
o ator de Hollywood Robin Williams revelou em entrevista ao jornal inglês The
Guardian que fez coisas horríveis por causa do vício em cocaína, que tentou se
livrar e infelizmente o levou ao ato final de desespero.
No mesmo período da entrevista de
Williams, a pop star Lady Gaga declarou que o vício pregresso em cocaína e LSD
quase a levou à morte, até conseguir recuperar-se; coisa que ocorreu de maneira
similar com a cantora brasileira Deborah Blando.
Em outubro de 2013, uma garota de
20 anos, da cidade de Assis, em São Paulo, saiu para uma balada e horas depois
seus pais foram acordados para resgatar seu corpo que jazia num hospital, com o
atestado de óbito anunciando overdose de cocaína.
Os festejos natalinos em dezembro
passado foram cancelados na residência de uma família de classe média em Cabo
Frio, no Rio de Janeiro, depois que um filho de apenas 12 anos morreu com uma
overdose de cocaína e a mistura de entorpecentes.
O ano novo nem bem começou no
Brasil e fomos bombardeados com notícia da estranha morte de um engenheiro
catarinense de 36 anos, que despencou de um hotel
no México. Ele havia consumido drogas durante a temporada de férias.

Desde ontem, a imprensa
brasileira trata como uma perda irreparável o fuzilamento de Marco Archer, o
traficante de cocaína, e playboy que viveu o glamour dos esportes radicais e
das boates internacionais, patrocinado pelas drogas que vendia.
Durante os dois governos do PT,
com Lula e com Dilma, o Palácio do Planalto deu ao caso da condenação do
traficante uma aura de tragédia nacional com trejeitos políticos de incidente
diplomático entre o Brasil e a Indonésia, onde ele foi preso.
Formado na cultura da corrupção
brasileira, onde o dinheiro resolve todos os problemas, limpa reputações e
encobre crimes, Archer sempre acreditou que a instituição da propina, que
também existe na Indonésia, iria livrar sua cara.
Entre os ridículos depoimentos
oficiais em solo brasileiro a seu favor (faça-se justiça e poupemos a
histriônica Maria do Rosário, que não o tratou como herói), destaca-se o de um
diplomata que considerou extremo um tiro como castigo.
O que o tal burocrata da
politicagem de cabotagem – e também Lula e Dilma – não sabe é que o primeiro
contato dos jovens com a cocaína é muito parecido com o fuzilamento que matou
Archer. Cheirar é dar em si mesmo o primeiro tiro.
E quantos foram aqueles que se
iniciaram no vício encarando a droga como uma moda de juventude? Quantos deram
a primeira cheirada no pó que saiu das mãos traficantes de Marco Archer?
Quantos foram fuzilados pelas carreirinhas dele?
A rede do tráfico cria uma
relação aparentemente invisível entre o traficante e o usuário, através do mero
avião que apanha o papelote para distribuir nos inferninhos. Qualquer piedade
com Archer, como a de Dilma, é piegas e cínica.
Com exceção dos seus familiares,
ninguém deve sentir sua morte na Indonésia, nem muito menos imprimir na sua
vida pregressa um tom de personagem literário ou cinematográfico. Há de ser lembrado
como quem fuzilou vidas a troco de pó.