quinta-feira, 23 de janeiro de 2014
Fonte : http://www.blogconcurseiradedicada.com/2013/04/o-uso-da-ritalina-e-sua-promessa-de.html
Quem não
tem um amigo que já usou ou já ouviu alguém comentando que estava interessado
em tomar Ritalina para melhorar seu rendimento nos estudos e passar
em concursos?!
Já me
antecipo e digo: sou contra o uso da Ritalina para turbinar os estudos e
meu intuito com esse post é alertar os concurseiros aos possíveis problemas que
seu uso pode acarretar e seus reais efeitos.
Para quem
não sabe do que se trata, a Ritalina é um medicamento de tarja preta que tem
como substância ativa o cloridrato de metilfenidato, estimulante do sistema
nervoso central. Na medicina, a droga é usada para reduzir impulsividade e
hiperatividade de pessoas com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade
(TDAH), especialmente crianças.
O tema é
polêmico! Muitos concurseiros e estudantes estão utilizando essa droga por
acreditarem que conseguirão ficar horas e horas estudando sem que o redimento e
aprendizado diminuam. Como se trata de um medicamento tarja preta, sua
comercialização só é possível através de receita médica especial, muitos
concurseiros estão comprando o medicamento no mercado negro, o que sabemos ser
totalmente arriscado e contra-indicado!
Essa semana
mesmo em um grupo do facebook vi alguns concurseiros perguntando como comprar e
aonde comprar sem prescrição médica, e isso aumentou minha vontade em separar
um espaço no blog para discutir a questão.
Trago
abaixo uma matéria publicada do Jornal Estado de São Paulo que apresenta um
estudo da Unifesp demonstrando que a Ritalina não aumenta a memória de longo
prazo ou a inteligência. Vejamos:
A
Ritalina não promove melhora cognitiva em pessoas saudáveis. Indicada para
transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), ela tem sido usada
por estudantes que buscam melhor desempenho em provas e concursos. Apesar da
fama que lhe rendeu o apelido de “pílula da inteligência” ou “droga dos
concurseiros”–, uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
mostra que o medicamento não beneficia a atenção, a memória e as funções
executivas (capacidade de planejar e executar tarefas) em jovens sem o
transtorno.
A
psicóloga Silmara Batistela, autora do estudo, decidiu investigar o tema ao
perceber a popularização da prática de doping mental. “É muito comum ouvir o
relato de pessoas que, para passar a noite estudando antes da prova, tomam
Ritalina”, diz. O objetivo da pesquisadora era avaliar se o consumo do
medicamento, cujo princípio ativo é o cloridrato de metilfenidato, realmente
trazia vantagens cognitivas.
Para a
pesquisa, foram selecionados 36 jovens saudáveis de 18 a 30 anos. Eles foram
divididos aleatoriamente em quatro grupos: um deles tomou placebo e os outros
três receberam uma dose única de 10mg, 20mg ou 40mg da medicação. Depois de
tomarem a pílula, os participantes foram submetidos a uma série de testes que
avaliaram atenção, memória operacional e de longo prazo e funções executivas. O
desempenho foi semelhante nos quatro grupos, o que demonstrou a ineficácia da
Ritalina em “turbinar” cérebros saudáveis.
“O uso
não alterou a função cognitiva. A única diferença que observamos foi que os que
tomaram a dose maior, de 40 mg, relataram uma sensação subjetiva de bem-estar
maior em comparação aos demais”, diz Silmara.
Perigos
O
psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, diretor do Programa de Orientação e
Atendimento a Dependentes (Proad) da Unifesp, observa que o mito de que a
Ritalina teria o potencial de tornar alguém mais inteligente não faz sentido.
“A pessoa fala que consegue estudar a noite inteira com o remédio. Isso é
porque ela fica acordada e não porque tem uma melhora na atenção”, diz. Ele
observa que o aprendizado sob o efeito da droga consumida inadequadamente é de
má qualidade.
Silveira
destaca que existem perigos relacionados ao uso inadequado do medicamento. O
consumo aumenta os riscos de problemas do coração e pode levar a um quadro de
arritmia cardíaca. O especialista acrescenta que, tratando-se de uma
anfetamina, a droga apresenta também um potencial de abuso, razão pela qual é
controlada e só pode ser comprada com receita especial.
A
alternativa para os que resolvem usar a Ritalina sem ter indicação é recorrer
ao mercado negro. Estudantes relatam que não é difícil encontrar fornecedores
anunciando o produto em fóruns de discussão na internet.
Um
estudante de Economia de 22 anos, que preferiu não se identificar, conta que
soube dos efeitos da Ritalina por um amigo. “Ouvi falar de uma droga que todos
universitários estavam usando na Europa e nos Estados Unidos para aumentar a
concentração. Li sobre seus efeitos colaterais, para o que servia e, como
sempre me achei um pouco hiperativo, resolvi experimentar.” As duas primeiras
caixas foram compradas de um conhecido. Depois, encontrou um fornecedor na
internet que atende aos pedidos dele e de seus amigos. “A gente pede de uma vez
só várias caixas.” Para o universitário, que toma o remédio para estudar aos
fins de semana ou à noite, quando pretende varar a madrugada entre os livros, a
principal vantagem é tirar o sono. “O ganho está nas horas a mais que estudo na
madrugada.”
Segundo
ele, também há um aumento na concentração e na atenção. “Não fiquei mais
inteligente, mas meu tempo de dedicação aos estudos aumentou”, relata. Ele, que
foi um dos primeiros entre seus amigos a usar o recurso, conta que hoje conhece
cerca de 15 pessoas que aderiram. Um de seus amigos, também estudante de
Economia, conta que aderiu à pílula por ter dificuldade de ler textos longos.
“Eu começo a me dispersar no meio deles. Como trabalho o dia inteiro, acaba me
faltando tempo para conseguir ler volumes grandes.” Para ele, a Ritalina o
ajuda a ler bastante sem se dispersar.
Encenação
Outra
estratégia que tem sido adotada para obter o remédio é simular os sintomas do
TDAH na esperança de ganhar uma receita. O neuropediatra Paulo Alves Junqueira,
membro da Academia Brasileira de Neurologia (Abneuro), conta que tem existido
essa demanda, principalmente entre os concurseiros. “O médico precisa ter a
habilidade de identificar esses casos: o TDAH não vem de uma hora para outra. É
um transtorno incapacitante que acompanha o paciente ao longo da vida.” Segundo
levantamento feito pelo Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no
Estado de São Paulo (Sindusfarma) a pedido do Estado, houve um crescimento de
quase 50% na venda de remédios à base de cloridrato de metilfenidato no Brasil
entre 2008 e 2012. Entre setembro de 2007 e outubro de 2008 foram vendidas
1.238.064 caixas, enquanto entre setembro de 2011 e outubro de 2012 as vendas
cresceram para 1.853.930 caixas. Nesse intervalo, os valores gastos com a
medicação passaram de R$ 37.838.247 para R$ 90.719.793.
Remédio é
popular entre os que prestam concursos
Um dos
grupos em que o uso irregular de Ritalina é mais popular é o dos
“concurseiros”: aqueles que se preparam para conseguir uma aprovação nos
concorridos concursos públicos. O juiz do Trabalho Rogerio Neiva, que dá aula
em curso preparatório e pesquisa sobre neurociência da educação, conta que
percebe entre seus alunos “a ideia de que, tomando a Ritalina, vão ter a
fórmula mágica do sucesso intelectual e cognitivo”.
Para ele,
a grande atração dos estudantes pela droga vem da esperança de que ela acelere
o processo de aprendizado. “Os ‘concurseiros’ estão atrás da facilidade, da
dica, do esquema. É fácil, portanto, cair em qualquer discurso que se aproxime
da ‘pílula do sucesso’”, diz.
No caso
de uma “concurseira” de 30 anos, que preferiu não ser identificada, o uso
inadequado da Ritalina veio por sugestão de um médico. Ela fazia um tratamento
psiquiátrico para distúrbio de humor e sempre reclamava de sua falta de
concentração e dificuldade de reter o conteúdo estudado. “Quando você estuda há
algum tempo e os resultados positivos não vêm, você fica buscando
justificativas.” Seu médico fez, então, algumas perguntas para identificar
possíveis sinais de TDAH. Como ela respondeu positivamente a alguns desses sinais,
o profissional sugeriu o uso de Ritalina como teste, para ver se ela teria
resultado positivo. “Hoje, vejo que foi um teste irresponsável das duas partes:
ele, como médico, e eu, como adulta e consciente.”
A
estudante diz que logo começaram a surgir os efeitos negativos. Com a droga,
ela conseguia estudar por várias horas, mas se esquecia de tomar água e se
alimentar. “A concentração realmente aumenta, mas é falha, porque ficar sentada
nem sempre quer dizer que você está aprendendo.” Depois de alguns meses de uso,
começou a sentir dores de estômago, prisão de ventre e tremedeira nas mãos.
Em uma
ocasião, viajou para fazer uma prova e esqueceu o remédio no hotel. Antes do
início do exame, o nervosismo era tanto por saber que teria de fazer a prova
sem a droga, que ela roeu todas as unhas. “Desde esse dia, comecei a avaliar se
estava vidrada no medicamento, se tinha viciado.”
Quando
suspendeu o uso, passou meses sem estudar direito. “Acho que piorei em
concentração: é como se eu tivesse ficado sozinha, sem o remédio que me
garantia sucesso. Daí veio o choro e a revolta.” Hoje, ela conseguiu uma
aprovação, que credita aos cinco anos de estudo, e não à droga.
Neiva
observa que a atração pela Ritalina também pode decorrer do fato de que a vida
do “concurseiro” não é fácil. “A preparação é um processo intelectualmente
desgastante. É uma fase difícil e é natural que as pessoas tentem buscar
recursos para minimizar desgastes”, diz.
Substância
é eficaz contra déficit de atenção.
No caso de pessoas efetivamente diagnosticadas
com TDAH, a Ritalina promove o aumento dos níveis de dopamina no cérebro.
Trata-se de um neurotransmissor que aumenta o estado de alerta e melhora a
cognição, por isso geralmente promove uma melhora nos estudos.
O
neuropediatra Paulo Alves Junqueira, membro da Academia Brasileira de
Neurologia (Abneuro), afirma que a droga não aumenta a inteligência nem fornece
habilidades que a pessoa não tinha anteriormente, “mas deixa o paciente pronto
para trabalhar em dobro porque tira a fadiga e estabelece um esforço para que
consiga se manter em determinadas tarefas”.
O
diagnóstico é clínico. “É necessário fazer uma entrevista artesanal, longa, com
várias questões. Tem de saber das trajetórias do paciente e o quanto tem de
prejuízo nos relacionamentos, no trabalho e na autoestima”, diz. Constatado o
transtorno, é preciso inquirir o histórico cardiovascular do paciente. Os que
já tiveram problemas no coração não devem usar a droga.
“Para
quem precisa, o remédio muda a história de vida do indivíduo. Ouço relatos de
portadores que, depois de serem diagnosticados, mudaram de vida, entraram na
faculdade e tiveram várias realizações. Isso é gratificante”, diz Junqueira.
Para o
psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, a fama da Ritalina de tornar as pessoas
mais inteligentes vem do fato de que portadores de TDAH são frequentemente
rotulados de preguiçosos antes do diagnóstico. “Depois de medicados, o
rendimento escolar passa a ser muito bom. Por isso os pais brincam que é a
‘pílula da inteligência’. Tenho um paciente que diz que ficou ‘nerd’ depois da
Ritalina.”
Fonte: O Estado de SP