Retrospectiva 2015: Direito do
Trabalho e Previdenciário
O ano de 2015 foi de intensa produção
normativa, com a aprovação de diversos diplomas legais e emendas
constitucionais que inovaram substancialmente a ordem jurídica.
Vejamos, assim, os principais
destaques nas esferas trabalhista e previdenciária.
O novo Código de Processo Civil,
instituído pela Lei 13.105, de 16 de março de 2015, com início de vigência
depois de um ano da data de sua publicação oficial, estabelece importantes
modificações na esfera jurisdicional, com possíveis reflexos também nas áreas
em estudo, mesmo porque, de acordo com o seu art. 15, na ausência de normas que
regulem processos eleitorais, trabalhistas ou administrativos, as disposições
do CPC de 2015 devem ser aplicadas supletiva e subsidiariamente, ou
seja, em casos de omissão total e parcial.
A Emenda Constitucional 88, de 07 de
maio de 2015, por sua vez, alterou o art. 40, § 1º, inciso II, da Constituição
da República, relativamente ao limite de idade para a aposentadoria
compulsória do servidor público em geral.
Passou-se a prever que os servidores
abrangidos por Regime Próprio de Previdência Social devem ser aposentados
compulsoriamente, com proventos proporcionais ao tempo de contribuição, aos 70
anos de idade, ou aos 75 anos de idade, na forma de lei complementar.
Foi acrescentado, ainda, o art. 100
ao Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.
Com isso, até a entrada em vigor da
lei complementar em questão, os Ministros do Supremo Tribunal Federal, dos
Tribunais Superiores e do Tribunal de Contas da União são aposentados,
compulsoriamente, aos 75 anos de idade, nas condições do art. 52 da Constituição
Federal de 1988.
A matéria deu origem a diversos
desdobramentos e questionamentos, inclusive judiciais, com destaque à Ação
Direta de Inconstitucionalidade 5.316/DF, perante o Supremo Tribunal Federal.
Mais recentemente, após o Congresso
Nacional rejeitar veto da Presidência da República, a Lei Complementar 152, de
03 de dezembro de 2015, regulamentando essa modificação constitucional, dispôs
que devem ser aposentados compulsoriamente, com proventos proporcionais ao
tempo de contribuição, aos 75 anos de idade: os servidores
titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, incluídas suas autarquias e fundações; os membros do Poder
Judiciário; os membros do Ministério Público; os membros das Defensorias
Públicas; os membros dos Tribunais e dos Conselhos de Contas.
Além disso, a Lei 13.134, de 16 de
junho de 2015, modificou a disciplina do seguro-desemprego, com a
previsão de requisitos mais rigorosos para o seu recebimento, notadamente para
a primeira solicitação.
No âmbito da Seguridade Social, a Lei
13.135, de 17 de junho de 2015, estabeleceu modificações na legislação
previdenciária, em especial quanto à pensão por morte, a qual pode
não ser mais vitalícia em caso de recebimento pelo cônjuge ou companheiro,
levando em consideração aspectos como o número de contribuições mensais, a
duração do casamento ou da união estável e a idade do beneficiário na data de
óbito do segurado.
É certo que as referidas medidas,
restringindo direitos sociais, tiveram como justificativa a necessidade de
manutenção do equilíbrio financeiro e atuarial da Previdência Social (art. 201
da Constituição da República).
Esse objetivo, entretanto, não pode
afrontar o Estado Democrático de Direito, fundado na dignidade da pessoa humana
(art. 1º, inciso III, da Constituição Federal de 1988), em que o retrocesso
social é vedado (arts. 5º, § 2º, e 7º, caput, da Constituição da
República).
A Lei 13.183, de 04 de novembro de
2015, em conversão da Medida Provisória 676/2015, prevê a possibilidade de não incidência
do fator previdenciário no cálculo da aposentadoria por tempo
de contribuição, ou seja, quando o total resultante da soma da idade e do tempo
de contribuição do segurado, na data de requerimento da aposentadoria, for:
igual ou superior a 95 pontos, se homem, observando o tempo mínimo de
contribuição de 35 anos; ou igual ou superior a 85 pontos, se mulher, observado
o tempo mínimo de contribuição de 30 anos.
Trata-se da chamada fórmula
85/95.
As previsões voltadas a disciplinar a desaposentação,
não obstante, foram vetadas.
Quanto às formas alternativas de
pacificação dos conflitos, a Lei 13.129, de 26 de maio de 2015, ampliou
o âmbito de aplicação da arbitragem e dispôs sobre a escolha dos
árbitros, a interrupção da prescrição pela instituição da arbitragem, a
concessão de tutelas cautelares e de urgência nos casos de arbitragem, a carta
arbitral e a sentença arbitral.
Apesar disso, foi vetada a
previsão que autorizava a cláusula compromissória nos contratos individuais de
empregados que ocupam cargos de administração de ou diretoria, com a exigência
de iniciativa do empregado na instituição da arbitragem ou a sua concordância
expressa (art. 4º, § 4º).
Com isso, ganhou força o
entendimento, majoritário na doutrina e na jurisprudência, no sentido da
incompatibilidade da arbitragem no âmbito da relação individual de emprego.
A Lei 13.140, de 26 de junho de 2015,
dispôs sobre a mediação como meio de solução de controvérsias
entre particulares e sobre a autocomposição de conflitos no âmbito da administração
pública.
A mediação, nesse enfoque, é
entendida como a atividade técnica exercida por terceiro imparcial sem
poder decisório, que, escolhido ou aceito pelas partes, as auxilia e
estimula a identificar ou desenvolver soluções consensuais para a controvérsia
(art. 1º, parágrafo único).
O mencionado diploma legal, porém, não
é aplicável à esfera trabalhista, conforme o seu art. 42, parágrafo único,
ao prever que a mediação nas relações de trabalho deve ser regulada por lei
própria, certamente em razão de suas diversas peculiaridades.
Na jurisprudência, cabe registrar o
entendimento firmado pelo Supremo Tribunal Federal, no sentido de que a
“transação extrajudicial que importa rescisão do contrato de trabalho, em razão
de adesão voluntária do empregado a plano de dispensa incentivada,
enseja quitação ampla e irrestrita de todas as parcelas objeto do contrato de
emprego, caso essa condição tenha constado expressamente do acordo coletivo que
aprovou o plano, bem como dos demais instrumentos celebrados com o empregado”
(RE 590.415/SC, Rel. Min. Luís Roberto Barroso, j. 30.04.2015).
A Lei Complementar 150, de 1º de
junho de 2015, por seu turno, dispôs sobre o contrato de trabalho
doméstico, concretizando os avanços decorrentes da Emenda Constitucional
72/2013, que modificou o art. 7º, parágrafo único, da Constituição da
República.
Ficou estabelecido ser empregado
doméstico o trabalhador que presta serviços de forma contínua, subordinada,
onerosa e pessoal e de finalidade não lucrativa à pessoa ou à família, no
âmbito residencial destas, por mais de dois dias por semana (art.
1º).
Ademais, foram disciplinados
importantes direitos sociais, como o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e o
seguro-desemprego, bem como instituído o regime unificado de pagamento de
tributos, de contribuições e dos demais encargos do empregador doméstico
(Simples Doméstico).
Frise-se ainda que a Lei 13.146, 06
de julho de 2015, instituiu a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), destinada a assegurar
e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das
liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão
social e cidadania.
Em harmonia com a Convenção sobre os
Direitos das Pessoas com Deficiência, consolidou-se o entendimento de que a
pessoa com deficiência é aquela que tem impedimento de longo prazo de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com
uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na
sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas (art. 2º).
O diploma legal em questão, entre
outros aspectos, ao versar sobre odireito ao trabalho, dispõe sobre a
inclusão da pessoa com deficiência na atividade laborativa (arts. 34 a 36).
A Lei 13.189, de 19 de novembro de
2015, em conversão da Medida Provisória 680/2015, instituiu o Programa
de Proteção ao Emprego(PPE), com os objetivos de possibilitar a preservação
dos empregos em momentos de retração da atividade econômica, favorecer a
recuperação econômico-financeira das empresas, sustentar a demanda agregada
durante momentos de adversidade para facilitar a recuperação da economia,
estimular a produtividade do trabalho por meio do aumento da duração do vínculo
empregatício e fomentar a negociação coletiva e aperfeiçoar as relações de
emprego (art. 1º).
Trata-se de medida de flexibilização das
condições de trabalho em épocas de crise, com a possibilidade de celebração do acordo
coletivo de trabalho específico, a ser pactuado entre a empresa e o
sindicato de trabalhadores, podendo reduzir em até 30% a jornada e o salário
(art. 5º).
Merece destaque a previsão de que os
empregados de empresas que aderirem ao PPE e que tiverem seu salário reduzido
fazem jus a umacompensação pecuniária, a ser custeada pelo Fundo de
Amparo ao Trabalhador (FAT), equivalente a 50% do valor da redução salarial e
limitada a 65% do valor máximo da parcela do seguro-desemprego, enquanto
perdurar o período de redução temporária da jornada de trabalho (art. 4º).
Elencadas as principais novidades
legais ocorridas em 2015, deve-se salientar que, no plano dos fatos, a
instabilidade política tem gerado crescente retração da economia, com reflexos
negativos nos níveis de renda e de emprego, acarretando profunda insegurança
social.
De todo modo, finalizando esta breve
retrospectiva, merece ser enfatizado o verdadeiro papel do Direito,
principalmente em momentos mais delicados nas esferas econômica, social e
política, como o atual.
Nesse sentido, em verdade, cabe ao
Direito não apenas se adaptar, passivamente, aos novos tempos, mas contribuir,
de forma positiva, para o desenvolvimento e o progresso, estabelecendo determinações
normativas no sentido da melhoria das condições de vida.
Somente assim cumpriremos o
mandamento constitucional deconstrução de uma sociedade livre, justa e
solidária (art. 3º, inciso I, da Constituição da República).
Veja também:
Conheça as obras do autor (Clique aqui!)
Nenhum comentário:
Postar um comentário